Logo na inauguração, um artesão doou ao Centro de Artes Tradicionais uma peça. Recebemos um pequeno sapato do senhor Francisco Chotas, sapateiro no Vimieiro, concelho de Arraiolos.
Para ficarem a conhecer melhor o seu trabalho, deixo-vos aqui um excerto sobre a entrevista que fizemos ao senhor Chotas, em 2002, no âmbito do recenseamento dos artesãos do distrito de Évora:
APRENDIZAGEM
Aprendi com o meu pai, quando saí da escola. Foi aos 18 anos que iniciei a actividade na sua oficina. Quando estive emigrado interrompi a actividade que, reiniciei aos 28. Quando o meu pai faleceu herdei a oficina. Por volta de 1985, iniciei a actividade por conta própria.
A MINHA EXPERIÊNCIA
Nesta terra havia duzentos e tal sapateiros. Quem tinha uma vida melhor ia para sapateiro. Cheguei a ter 4 empregados. Os mais pobres trabalhavam na agricultura. Todos os trabalhadores rurais usavam calçado artesanal. Hoje já ninguém gasta calçado desta qualidade.
Actualmente somos cerca de seis sapateiros. Penso que este ofício morre por completo, ninguém aprende. Eu gosto desta actividade, mas hoje quase nada tenho para fazer. Vou fazendo pequenos reparos, aqui para a população. Dei um curso de formação profissional, mas ninguém se interessava por isto. Era só para ganhar o dinheiro. Através da associação "O Monte", estive na Feira Internacional de Artesanato a representar o concelho de Arraiolos.
NA OFICINA
Utilizo pele de vitela e de cabra. Talho a bota através de moldes das peças: folha da frente, espelho, folha de trás. A folha da frente é vergada numa máquina (vergadeira). Segue-se o “ajuntar” das peças e cozo-as à máquina. Depois de cozida é pregada na forma de madeira. É palmilhada com uma vira (parte que segura a sola) em redor da parte inferior da bota. A sola é cozida na vira (tudo à mão). Finalmente coloco os saltos. O acabamento da peça consiste em aparar a sola toda em volta e passar a grosa para alisar. Com o ferro quente e cera dou o acabamento final.
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