A sociedade rural, marcada pelos latifúndios do sul e o mundo das aldeias da outras zonas, foi confrontada, em especial desde os anos 60, com processos que modificaram os seus contornos e estruturas. A transformação tecnológica da agricultura e dos hábitos e consumos da população reflectiram-se também nos ofícios e tarefas do trabalhos agrícola e rural: os saberes técnicos tornam-se cada vez mais necessários e tendem a substituir os saberes tradicionais. Sendo o Alentejo, tradicionalmente, uma zona rica nesta área patrimonial e fecunda em artesanato, urgia a concepção de uma política de intervenção.
O GARDE - Gabinete de Artesanato Regional do Distrito de Évora - foi um organismo criado, na década de 60, pela Junta Distrital de Évora para funcionar como entreposto comercial, ou seja enquanto instrumento de ligação entre a oficina artesanal e o comerciante (especialmente o exportador), por forma a que a divulgação, embalagem e distribuição dos produtos originários da arte popular alentejana se processasse em termos de fomento e de incentivo.
Nesse sentido foram levados a cabo contactos e pesquisas - com instituições, artesãos, etc. - no intuito de promover o artesanato regional enquanto actividade económica ligada à exportação e ao turismo; para tal terá sido inaugurada, em 1962, uma exposição que terá dado início à colecção do futuro Museu de Artesanato Regional. Sete anos depois, a 23 de Dezembro de 1969, Eduardo Nery - à altura representante, em Portugal, do World Crafts Council, (UNESCO) - envia ao Presidente da Junta Distrital de Évora, Dr. Armando Perdigão, uma missiva no intuito de recolher informação acerca da: "(...) Exposição permanente de artesanato do Celeiro Comum de Évora, de que tive conhecimento através do Sr. Dr. Artur Nobre de Gusmão, da Fundação Calouste Gulbenkian (...)"; o principal objectivo deste contacto terá sido o levantamento de dados sobre a situação do artesanato português, para uma edição daquele organismo internacional. Em Janeiro de 1970, na resposta à dita missiva, encontramos informações elucidativas que nos permitem uma caracterização sumária do passado:
"Embora funcionando na mesma sala (Celeiro Comum) tivemos a preocupação de separar a parte artística da comercial (...)", ou seja, no mesmo espaço era possível encontrarmos, por um lado, o "(...) Gabinete de Artesanato Regional do Distrito de Évora (GARDE) (...) uma associação do tipo "Grupo dos Amigos do Artesanato" que se preocupa com os problemas da comercialização, exportação, embalagem, etc., tarefas de que a Junta não poderia legalmente ocupar-se (...)"e, por outro a " (...) Exposição permanente do Artesanato do Distrito funcionando a expensas da Junta Distrital (...) visando divulgar a nossa arte popular (...)".
Esta última integrava " (...) Mobílias Alentejanas; Mobiliário de Azinho; Objectos de Azinho; Olaria do Redondo e de São Pedro do Corval; Bonecos (barro) de Estremoz; Tapetes de Arraiolos; Mantas de Reguengos e Alandroal; Cortiça (tarros, miniaturas, etc.); Chocalhos das Alcáçovas; Tapetes de buinho; Ferros forjados; Pelaria e curtumes; Trabalhos de chifre; Aprestos para solípedes (...)", ou seja, constituía uma exibição de todos os objectos fabricados, à altura e no distrito, com recurso aos materiais tradicionais. A exposição representava o carácter contemporâneo da produção artesanal, característica que foi sendo mantida por mais de uma década.Em 17 de Junho de 1980 - num ofício dirigido ao Presidente da Autarquia - a Presidente da Assembleia, Mariana Calhau Perdigão comunica " (...) Tendo a Exposição de Artesanato Regional do Distrito de Évora sido considerada MUSEU DE ARTESANATO REGIONAL, por deliberação da Assembleia Distrital de Évora, reunida em 30 de Março do ano corrente e, dado o grande interesse da sua maior divulgação, solicito a V. Exª providenciar no sentido da sua sinalização (...)", ou seja, a transformação da Exposição permanente num projecto museológico.
Tal projecto, no entanto, perdurou apenas cerca de uma década visto que o MAR foi extinto em 1991. Com o encerramento desta instituição fica por solucionar o destino da colecção - propriedade da Assembleia Distrital de Évora - que foi sumariamente inventariada e armazenada, na periferia da cidade, numa pequena arrecadação da Quinta das Glicínias. Dez anos depois, a aposta na constituição de um Centro de Artes Tradicionais - e a consequente transferência deste espólio - permitiram a realização de um inventário, sob a égide da Região de Turismo de Évora, no intuito de a tornar parte integrante do património museológico distrital.
A colecção do extinto Museu de Artesanato Regional de Évora (MAR), incorpora uma série de formas e materiais - barro, couro, peles, lã, chifre, madeira, trapo, buinho, cortiça, vime, ferro, cobre, folha de "flandres", pedra, etc. e o seu principal objectivo era o de dar a conhecer o artesanato mais representativo do distrito de Évora, um dos três - com o de Beja e Portalegre - que constituem a vasta região do Alentejo.
Fonte: Inventário Matriz
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