Qual o motivo ou razão fundamental que assistiram ao Sr. Dr. Armando Perdigão, ao meter ombros a tão grandiosa tarefa, que tem constituído trabalho positivo na panorâmica do artesanato local?
Foram vários os motivos: Constatar que o público, “lá fora” mostra especial predilecção pelo artesanato, ou seja, está na moda comprar os singelos e ingénuos objectos de fabricação popular.
Verificar, através das solicitações vindas do boletim de informações do Fundo de Fomento de Exportação – Secção Oportunidades Comerciais – que os produtos do artesanato português estavam sendo solicitados pelos importadores estrangeiros.
Reconhecer que o “grau de regionalidade” do nosso artesanato é garantia de que terá a melhor aceitação em qualquer mercado. Saber quão abandonada e minimizada tem estado a actividade artesanal. Por outro lado, conhecer também a dura e inexorável luta que a fabricação industrial e seriada move ao produtor familiar, abatendo-o um a um. Neste capítulo, e como exemplo recente, impressiona o mau gosto da maioria das peças de plástico agora à venda, a sua vulgaridade e fragilidade; todavia a sua divulgação nas camadas populares tornou-se um verdadeiro flagelo e no fundo, sem qualquer benefício para aquelas.
Este flagrante exemplo do que pode chamar-se uma grande campanha anti-artesanal, tem ainda o triste significado de que não é hoje difícil “vender gato por lebre”, impor colectivamente o mau gosto e a mediocridade.
Deseja referir-se a alguma colaboração mais directa, Entidades?
É-me muito grato referir a extraordinária colaboração do Fundo de Fomento de Exportação que positiva e concretamente tem apoiado a Junta Distrital em todos os passos pró-artesanais dados.
Pensa-se organizar e manter em Évora um museu vivo do artesanato regional?
No programa da Junta estava, na verdade, prevista a organização duma exposição – mostruário permanente para que o comércio interno e externo pudesse tomar conhecimento desse maravilhoso mundo que é o do artesanato, podendo através de tal conhecimento fazer as suas encomendas.
Dentro de poucos dias, teremos aquela exposição permanente a funcionar. Esta pretensão, aparentemente simples, requer a montagem consciente de uma complicada organização comercial, técnica, financeira, etc. em ordem a pôr a produção artesanal num nível aceitável e dar-lhe condições de sobrevivência. Dada a complexidade da tarefa em causa, julgou-se fundamental a criação dum organismo específico que se ocupe de tudo o que se refere ao fomento do nosso artesanato: o Gabinete do Artesanato Regional do Distrito de Évora – GARDE – cujos estatutos aguardam, letargicamente, a aprovação superior.
O museu do artesanato ao vivo não deverá confundir-se nem misturara-se com a referida exposição – mostruário. Todavia posso confidenciar-lhe: é um dos sonhos da Junta, talvez um sonho excessivamente audacioso, a exibição da actividade artesanal ao vivo, mas como secção do Museu do Povo Alentejano, este instalado ao ar livre apresentando, com a mais fiel reprodução, todo o viver das gentes transtaganas.
FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.
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