sábado, 27 de agosto de 2011

Entrevista ao mentor do M.A.R., IV

- Da recente exposição, que com tanto brilhantismo se realizou em Évora, por altura da tradicional Feira de São João nesta cidade, quais as conclusões a que se chegou? Fundamentalmente duas: que há tanta coisa com interesse, que é verdadeiramente imperativo pegar no artesanato e levá-lo ao nível de desenvolvimento que ele merece; que o público, em elevadíssimo número, gastou e apreciou, prova evidente de que, quando solicitado acorrerá a colaborar numa campanha que deveria ser apoiada por todos; o comércio para que compre e venda, o público para que o adquira ou produza.
- A exposição de artesanato no Redondo integrou-se no mesmo programa que a Junta está realizando? Exactamente. Há que levar a todas as localidades o fermento e a sugestão para que se reabilite a nossa actividade artesanal. De resto, o Redondo é solar de uma olaria que muito interesse tem para o público estrangeiro
- O turismo nacional poderá ser valorizado por um artesanato de qualidade? Sem dúvida. Os responsáveis por essa complexa indústria que é o turismo ano podem deixar no olvido o artesanato, uma das componentes dessa actividade industrial que tantas outras chama à cooperação. O turista pode não deixar dinheiro na praia, mas numa recordação típica investe invariavelmente algum.
- Que fez a Junta em matéria de procura de mercados externos? Participou na Exposição realizada em Bruxelas no Centro Português de Informação e enviou paralelamente peças para venda a um estabelecimento daquela capital, onde tudo se vendeu. Mandou para a televisão do Canadá diversas peças, onde dois programas constituíram enorme sucesso, a julgar pelo número de firmas que se dirigiram às entidades portuguesas e à TV. Forneceu vasto mostruário para uma importante firma inglesa. (Estas três operações ficam-se devendo ao Fundo de Fomento de Exportação). Enviou ainda pequeno mostruário para a Suécia.
- Que pensa fazer a Junta em matéria de preparação profissional? Vir a estabelecer cursos de formação e de aperfeiçoamento artesanal.
FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.

sábado, 20 de agosto de 2011

Entrevista ao mentor do M.A.R., III

- Está dentro do programa traçado, que nos parece poder considerar -se também de recuperação de todos os valores do nosso artesanato, a atribuição de quaisquer prémios, como estímulo e até possível descoberta de valores? Exactamente. É outra das funções previstas para o Gabinete, a da organização de exposições e a concessão de prémios.
- Como foi encarado o problema, que nos parece poderá verificar-se, se nu grande volume que a registarem-se, julgamos que não estão dentro das possibilidades actuais de fabricos? A capacidade de produção, bem como se compreende, e para certas peças, não é muito grande mas há todavia dois processos directos de a aumentar. O primeiro será comprar a produção durante todo o ano já que normalmente o artesão metade do ano tem dificuldade em colocar os produtos e vende-os de qualquer maneira ou abandona a actividade e vai trabalhar no campo o segundo é consequência do primeiro, e consiste em garantir-lhe a remuneração anual em resultado daquela assegurada aquisição e assim ele trabalhará os 12 meses e não apenas 5 ou 6 como até aqui.
Indirectamente, a capacidade de produção também é fomentada por aquele mecanismo – compra assegurada dos produtos – em virtude do artesão interessar a família na actividade.
- Há particulares interessados na capitalização de tão importantes actividades que constitui o artesanato? Na falta destes, para um mais amplo desenvolvimento, como pensa resolver-se o assunto? O sector mais interessado em capitalizar o artesanato deveria ser o do comércio, especialmente o exportador, mas este por vezes até retarda os pagamentos – não só não é generoso, como ainda lhe agrava a situação por virtude das já citadas demoras em liquidar.
A capitalização do artesanato, que é fundamental para o seu fomento, também está prevista nos estatutos do Gabinete e pretende tornar possível a compra da matéria-prima e o apetrechamento das oficinas caseiras.
- Aspectos sociais do artesanato (sua exploração como indústria). Os aspectos sociais do artesanato são os mais aliciantes. Veja-se que se poderá contribuir, pelo fomento do artesanato, para a redução do desemprego rural, pois muitos dos trabalhadores poderão ganhar honestamente e melhor o seu sustento
Por outro lado, toda a família pode participar neste modo de vida, uma vez que cada um dos seus membros poderá ter um papel a despenhar no ciclo de laboração da peça. Certos diminuídos físicos ou inferiorizados poderão desempenhar tarefas remuneradas.
A mulher poderá, quando impossibilitada de abandonar o lar, vigiando os filhos, trabalhar em benefício do agregado. Por outro lado, o bom artesão é sempre um bom operário em potência, pelo que indirectamente se tornará mais fácil o apetrechamento das unidades fabris com pessoal capaz.
Não deixarei de declarar que, com o desenvolvimento do artesanato, teremos de estar preparados para compreender uma evolução progressiva deste, no sentido de vermos mecanizadas algumas das suas fases, uma das formas de aumentar a produção, de embaratecer os produtos e de lhes conferir uma certa uniformidade, sem prejuízo do seu acabamento artístico, peça por peça.
FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Entrevista ao mentor do M.A.R., II

Parece-lhe que efectivamente o “artesanato-indústria”, num futuro próximo – quanto tempo? – Virá a constituir um factor de relevante valor na posição económica do Alentejo? Não tenho a mínima dúvida, o artesanato alentejano tem largas possibilidades de valorização e pode ter papel económico-social de interesse relevo na vida das gentes alentejanas.
Falar do tempo que possa necessitar-se para que tal incremento atinja os limites do desejável, é arriscar-me a uma imprudente previsão, pois tal brevidade ou demora é, antes de tudo, função das verbas que nos venham a ser concedidas para o efeito de se financiar o artesão e sobretudo para lhe adquirir toda a produção de qualidade.
Foram efectuadas algumas investigações históricas, certamente. Gostaríamos que se referisse a elas. Quais as vantagens que consequentemente resultaram das mesmas, para orientação dos trabalhos de produção? Uma das funções previstas para o GARDE é exactamente o de se proceder ao estudo retrospectivo do labor artesanal. Todavia, a Junta entende que não se pode subordinar uma política de fomento aos resultados de tais estudos, pois embora, em teoria, tal seja o caminho ideal, tem de reconhecer-se que o tempo despendido em tais estudos poderia ser decisivamente fatal para o caso de uma campanha de valorização imediata.
Neste sentido, recolha de elementos históricos, deram-se alguns passos, a saber: Organização de um ficheiro de registo circunstanciado da peça e do produtor – o Bilhete de Identidade – tendo sido emitidas já completas fichas para o efeito. Em curso a elaboração de um estudo sobre a cantaria artística nos concelhos de Estremoz, Borba e Vila Viçosa, para o que se encarregou escultor competente.
A Exposição do Artesanato Distrital efectuada no Celeiro Comum, as exposições dos barristas e a do Artesanato no Redondo, ambas subsidiadas pela Junta, pretenderam já por si fornecer elementos favoráveis a tal estudo, à guisa de arrolamento.
As investigações históricas a que alude foram de facto executadas e continua a Junta a subsidiá-las, mas pretendem sobretudo colher elementos arqueológicos da natureza não específica. É verdade que também obteremos assim precioso material que em alguma coisa aproveitará em favor do artesanato. Entende-se, pois, de muita importância o estudo que enunciou, mas como disse, a Junta não pode condicionar a sua campanha de fomento do artesanato aos resultados daqueles estudos, sempre morosos.
Quais as peças de artesanato que com fundamento se admite terão mais interesse, não só entre nós, como particularmente no estrangeiro? É difícil responder concretamente a esta pergunta, dado que o gosto do público é muito variado e, por outro lado, a “apetência” dos distintos mercados estrangeiros difere bastante de país para país. (...) mas em tese pode dizer-se que toda peça tem real interesse desde que a matéria-prima utilizada seja regional e à sua manufactura tenha presidido um genuíno sentido artístico de sabor popular, já que abastardar ou universalizar a produção é roubar-lhe toda a regionalidade.
Todavia, peças há que poderemos considerar como já consagradas no mercado externo como as mantas de Reguengos que, não obstante uma concorrência que as pretende imitar (...) têm já alta cotação como o atesta a medalha de ouro obtida na Exposição Internacional de Bruxelas.
Mas a olaria, a cestaria, os trabalhos de buinho, os torneados de azinho, o mobiliário à alentejana, e muitos outros, têm largas possibilidades, desde que devidamente enquadrados numa planificação (técnico-comercial) conjunta.
Espera-se uma larga difusão, para breve, pelas casas comerciais da especialidade, de venda ao público, das peças do nosso artesanato, a exemplo do que se faz nomeadamente em Espanha e na Grécia? (...) O “abastecimento” do comércio só poderá efectuar-se desde que o Gabinete esteja em condições financeiras de fazer a “stockagem”, comprando toda a produção qualificada. Portanto, esta larga difusão não demoraria tempo apreciável, estando, em última análise, dependente da entrada em funcionamento do GARDE e da sua dotação financeira.
Dado o interessante desenvolvimento turístico por que estamos passando, pensa a Junta fomentar a instalação de pequenos postos de venda de peças (tipo recordação) junto aos postos de venda de gasolina, a cargo destes, e me ordem a promover vendas naquelas localidades onde não existam estabelecimentos afins.
Não haverá, de alguma maneira, perigo de que os fabricos deixem de ser controlados e venham a cair numa “rotinice” de fabricos em série, em que se sobreponha o puro interesse material de ocasião, inferiorizando o valor dos fabricos, levada a efeito com menos escrúpulos e selecção, com prejuízos de garantia de autenticidade que resultará, no futuro, com menos aceitação e interesse dos mercados? Com certeza. Por isso o nosso previsto Gabinete tem, entre outras funções, a de acompanhar o artesanato sob este prisma. Será uma assistência tecnológica e artística permanente a dispensar-lhe. FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.

domingo, 7 de agosto de 2011

Entrevista ao mentor do M.A.R., I

Qual o motivo ou razão fundamental que assistiram ao Sr. Dr. Armando Perdigão, ao meter ombros a tão grandiosa tarefa, que tem constituído trabalho positivo na panorâmica do artesanato local? Foram vários os motivos: Constatar que o público, “lá fora” mostra especial predilecção pelo artesanato, ou seja, está na moda comprar os singelos e ingénuos objectos de fabricação popular. Verificar, através das solicitações vindas do boletim de informações do Fundo de Fomento de Exportação – Secção Oportunidades Comerciais – que os produtos do artesanato português estavam sendo solicitados pelos importadores estrangeiros.
Reconhecer que o “grau de regionalidade” do nosso artesanato é garantia de que terá a melhor aceitação em qualquer mercado. Saber quão abandonada e minimizada tem estado a actividade artesanal. Por outro lado, conhecer também a dura e inexorável luta que a fabricação industrial e seriada move ao produtor familiar, abatendo-o um a um. Neste capítulo, e como exemplo recente, impressiona o mau gosto da maioria das peças de plástico agora à venda, a sua vulgaridade e fragilidade; todavia a sua divulgação nas camadas populares tornou-se um verdadeiro flagelo e no fundo, sem qualquer benefício para aquelas.
Este flagrante exemplo do que pode chamar-se uma grande campanha anti-artesanal, tem ainda o triste significado de que não é hoje difícil “vender gato por lebre”, impor colectivamente o mau gosto e a mediocridade.
Deseja referir-se a alguma colaboração mais directa, Entidades? É-me muito grato referir a extraordinária colaboração do Fundo de Fomento de Exportação que positiva e concretamente tem apoiado a Junta Distrital em todos os passos pró-artesanais dados.
Pensa-se organizar e manter em Évora um museu vivo do artesanato regional? No programa da Junta estava, na verdade, prevista a organização duma exposição – mostruário permanente para que o comércio interno e externo pudesse tomar conhecimento desse maravilhoso mundo que é o do artesanato, podendo através de tal conhecimento fazer as suas encomendas.
Dentro de poucos dias, teremos aquela exposição permanente a funcionar. Esta pretensão, aparentemente simples, requer a montagem consciente de uma complicada organização comercial, técnica, financeira, etc. em ordem a pôr a produção artesanal num nível aceitável e dar-lhe condições de sobrevivência. Dada a complexidade da tarefa em causa, julgou-se fundamental a criação dum organismo específico que se ocupe de tudo o que se refere ao fomento do nosso artesanato: o Gabinete do Artesanato Regional do Distrito de Évora – GARDE – cujos estatutos aguardam, letargicamente, a aprovação superior.
O museu do artesanato ao vivo não deverá confundir-se nem misturara-se com a referida exposição – mostruário. Todavia posso confidenciar-lhe: é um dos sonhos da Junta, talvez um sonho excessivamente audacioso, a exibição da actividade artesanal ao vivo, mas como secção do Museu do Povo Alentejano, este instalado ao ar livre apresentando, com a mais fiel reprodução, todo o viver das gentes transtaganas.
FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sobreiro

RUAS FLORIDAS, REDONDO