sábado, 20 de agosto de 2011

Entrevista ao mentor do M.A.R., III

- Está dentro do programa traçado, que nos parece poder considerar -se também de recuperação de todos os valores do nosso artesanato, a atribuição de quaisquer prémios, como estímulo e até possível descoberta de valores? Exactamente. É outra das funções previstas para o Gabinete, a da organização de exposições e a concessão de prémios.
- Como foi encarado o problema, que nos parece poderá verificar-se, se nu grande volume que a registarem-se, julgamos que não estão dentro das possibilidades actuais de fabricos? A capacidade de produção, bem como se compreende, e para certas peças, não é muito grande mas há todavia dois processos directos de a aumentar. O primeiro será comprar a produção durante todo o ano já que normalmente o artesão metade do ano tem dificuldade em colocar os produtos e vende-os de qualquer maneira ou abandona a actividade e vai trabalhar no campo o segundo é consequência do primeiro, e consiste em garantir-lhe a remuneração anual em resultado daquela assegurada aquisição e assim ele trabalhará os 12 meses e não apenas 5 ou 6 como até aqui.
Indirectamente, a capacidade de produção também é fomentada por aquele mecanismo – compra assegurada dos produtos – em virtude do artesão interessar a família na actividade.
- Há particulares interessados na capitalização de tão importantes actividades que constitui o artesanato? Na falta destes, para um mais amplo desenvolvimento, como pensa resolver-se o assunto? O sector mais interessado em capitalizar o artesanato deveria ser o do comércio, especialmente o exportador, mas este por vezes até retarda os pagamentos – não só não é generoso, como ainda lhe agrava a situação por virtude das já citadas demoras em liquidar.
A capitalização do artesanato, que é fundamental para o seu fomento, também está prevista nos estatutos do Gabinete e pretende tornar possível a compra da matéria-prima e o apetrechamento das oficinas caseiras.
- Aspectos sociais do artesanato (sua exploração como indústria). Os aspectos sociais do artesanato são os mais aliciantes. Veja-se que se poderá contribuir, pelo fomento do artesanato, para a redução do desemprego rural, pois muitos dos trabalhadores poderão ganhar honestamente e melhor o seu sustento
Por outro lado, toda a família pode participar neste modo de vida, uma vez que cada um dos seus membros poderá ter um papel a despenhar no ciclo de laboração da peça. Certos diminuídos físicos ou inferiorizados poderão desempenhar tarefas remuneradas.
A mulher poderá, quando impossibilitada de abandonar o lar, vigiando os filhos, trabalhar em benefício do agregado. Por outro lado, o bom artesão é sempre um bom operário em potência, pelo que indirectamente se tornará mais fácil o apetrechamento das unidades fabris com pessoal capaz.
Não deixarei de declarar que, com o desenvolvimento do artesanato, teremos de estar preparados para compreender uma evolução progressiva deste, no sentido de vermos mecanizadas algumas das suas fases, uma das formas de aumentar a produção, de embaratecer os produtos e de lhes conferir uma certa uniformidade, sem prejuízo do seu acabamento artístico, peça por peça.
FERREIRA, Mira, Artesanato português – seu valor e interesse, uma entrevista concedida pelo Dr. Armando Perdigão, Mensário das Casas do Povo, Novembro de 1962, p.p. 8 – 11.

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